9 de abril de 2011

um poema por dia nem sabe o bem que lhe fazia

ele pediu para fecharmos os olhos, e começou a declamar com a sua voz quente e doce:

A verdade é que fomos

feitos do mesmo sangue

violento e humilde

A verdade é que temos

ambos a graça de compreender

todos os homens e todas as estrelas



A verdade é que Deus

nos ensinou

que este é o tempo da razão ardente.



Deus hoje deu-me um pouco

do que toda a vida lhe pedi

foi esta calma e simples aceitação

de que é preciso que estejas

longe de mim

para que amando eu possa conservar

o meu coração puro.

As ruas hoje pareciam mais largas

e mais claras

As casas e as pessoas

pareciam diferentes

Foi só o tempo de pedir a

Deus que prolongasse o generoso engano.

Tu ensinaste-me as palavras simples

as palavras belas

as palavras justas

E fizeste com que eu já não saiba

falar de outra maneira.

O amor substitui

o Sol — que tudo ilumina.

Sonhar contigo é quase como

saber que existo para além de mim.

Se basta que de mim te lembres

para que o sono facilmente venha

porque não hás-de dar-me amor a paz

com que o meu coração de há tanto tempo sonha

Vês como é tão simples

ter o coração

tão perto da terra

e os olhos nos olhos

e a alma tão perto

da tua alma

Por que será

que quanto mais repartimos

o coração

maior e mais nosso ele fica?


a verdade é que fomos*Raúl de Carvalho, in “Obras de Raul de Carvalho”

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